Sinto-me sem sentir todo abrasado
No rigoroso fogo, que me alenta,
O mal, que me consome, me sustenta,
O bem, que me entretém, me dá cuidado:
Ando sem me mover, falo calado,
O que mais perto vejo, se me ausenta,
E o que estou sem ver, mais me atormenta,
Alegro-me de ver-me atormentado:
Choro no mesmo ponto em que me rio,
No mor risco me anima a confiança,
Do que menos espero estou mais certo;
Mas se de confiado desconfio,
É porque entre os receios da mudança
Ando perdido em mim, como deserto.
Pe. António Vieira [1608-1697]
Religioso, escritor e orador português, nascido em Lisboa e falecido na Bahia.
No rigoroso fogo, que me alenta,
O mal, que me consome, me sustenta,
O bem, que me entretém, me dá cuidado:
Ando sem me mover, falo calado,
O que mais perto vejo, se me ausenta,
E o que estou sem ver, mais me atormenta,
Alegro-me de ver-me atormentado:
Choro no mesmo ponto em que me rio,
No mor risco me anima a confiança,
Do que menos espero estou mais certo;
Mas se de confiado desconfio,
É porque entre os receios da mudança
Ando perdido em mim, como deserto.
Pe. António Vieira [1608-1697]
Religioso, escritor e orador português, nascido em Lisboa e falecido na Bahia.
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